sábado, 24 de março de 2007

As musas silenciosas de Tita Blister






Tita Blister Talk !




Em 1930 a sueca Greta Garbo conduzia o cinema mudo ao limbo quando revelava nas telas o som de suas palavras no filme sonoro, Anna Christie. O público embriagado com a aparição da musa Garbo, exclama: Garbo Talk ! Estava decretada a morte do cinema silencioso. Fim de uma era de sedução, onde o olhar e o desejo nos lábios de Pearl White tremulavam nas telas pela última vez. A doce Pearl que encantava os homens no seriado “Os Perigos de Paulina”, agora está tão distante, esquecida, desbotada num celulóide diluído pelo tempo. A pianola que animava as sessões do Cine Odeon está muda. O velho projetor que rodava os filmes de nitrato é apenas um esqueleto de aço retorcido. A grande tela branca, manchada pelo tempo, com suas cortinas pesadas e adormecidas na lateral do cinema, revela-se uma esfinge e, lentamente, depois de uma espera angustiante de mais de 70 anos, o aparelho de 35 mm solta um terrível gemido, lançando fagulhas nas entranhas do projetor e explode na tela, as imagens fantasmagóricas e alucinantes das deusas do cinema.

Quem comanda a Moviola, agora é a artista plástica e fotógrafa Tita Blister, produzindo seu ensaio auto-portrait Musas Silenciosas. Vamos voltar no tempo do silent movie e observar no rosto de Tita:

A meiguice de Edna Purviance, eterna musa de Chaplin;
A sensualidade de Theda Bara;
O deboche sutil de Clara Bow;
O mistério por trás dos lábios de Garbo;
O desejo no look de Joan Crawford;
A erótica inocência de Louise Brooks

Tita recria com maestria a era dourada das sombras e das luzes, do black(and)white,
do pré-technicolor, da prata, da Agfa, da Ermanox e da Leica,
da pianola enlouquecida, dos beijos roubados, das divinas e voluptuosas,
dos portraits de Cecil Beaton e Edward Steichen
e, principalmente,
das deusas que inflamaram os corações e mentes dos cinéfilos de antanho!

Boquitas pintadas,
Olhares de doidivanas,
Sabor de Absinto
Summer and smoke.

Tiomkim, fotógrafo
10 março 2007